E ficou ali, miudinho, acocorado em sua humildade, fazendo luas com os dedos. Só depois, descobriu que era Deus. Como houvera criado a noite, não demorou a dar peso às pálpebras para justificar o sono. Quanto aos sonhos, como bem dissera, não fora criação sua. O Diabo, que negara com veemência qualquer responsabilidade no ofício dos pesadelos, culpou os homens pela criação dos mesmos.
Por seu turno e, como era aquele o sétimo dia desde o início da criação, Ele fora descansar. Segunda-feira acordou cedo e desejoso. Manhãzinha, junto com um resto de frio e as galinhas. A lenha sequer se vestira em fogo. Olhou nos escuros do mundo e bocejou. Há quem diga que era um esboço de preguiça, mas nem entre os que testemunharam aquele gesto se atreveu a tanto. Se ainda fosse uma virtude – disse de si para consigo, um certo tipo, esse, sim, um rascunho de bajulador. Mas Ele, que tudo ouvia – até pensamento e assombração – desprezaria a insinuação, preferindo retirar a remela que lhe grudava um dos olhos com a unha de um dos indicadores, enquanto matutava diante do descampado que, no lusco-fusco, se descortinava bem a sua frente.
Tomou uma decisão: criaria o ontem. Quanto ao amanhã, reservaria para as esperanças. Apegado que era às saudades, inventaria – mais adiante – um lugar onde guarda-las. Foi então que se lembrou que já o tinha inventado. Era o ontem.
Talvez por conta disto, o Diabo, que nos abeirados O espreitava, tenha amaldiçoado as segundas-feiras. E isso – como asseveraria o homem – haveria de ser a maior maldade atribuída a Satanás depois da sua invenção do arrependimento.
©Alfredo Gonçalves de Lima Neto
Belíssimo!
ResponderExcluirParabéns, Alfredo.
Muito bom mesmo! Parabens!
ResponderExcluirAbraço
Aramis